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Armando Teixeira: resistente por natureza

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Armando Teixeira: resistente por natureza

Trail… um desporto ou uma filosofia de vida? A pergunta divide opiniões, mas numa coisa estão todos de acordo. O trail está na natureza e na natureza de quem o pratica. E que o diga Armando Teixeira, um dos mais conceituados ultramaratonistas portugueses

Há quem lhe chame um desporto e há quem prefira dizer que se trata mais de um culto, do que outra coisa qualquer. Mais que uma guerra de vocábulos, o trail é uma filosofia de vida para aqueles (e são cada vez mais) que em comunhão com a natureza, desafiam os próprios elementos da natureza. 

Na realidade a modalidade (vamos assim chamar-lhe) tem conhecido um crescimento notório em Portugal, em especial nos últimos dois anos, com o proliferar de provas como cogumelos por todo o país. E tem sido a invulgaridade e o desafio que o trail e as longas distâncias associadas ao trail, que tem feito notícia nas televisões, com os conhecidos feitos de Carlos Sá nas areias do deserto do Sahara, mas também de Armando Teixeira, que foi notícia recentemente, depois de ter ficado em segundo lugar no Transgrancanaria, uma ultramaratona de 123 quilómetros, com um desnível acumulado de 11 mil metros, disputada nas Ilhas Canárias: «É um autêntico carrocel, com sobe e desce constante» - diz o ultramaratonista, colega de treino de Carlos Sá e que sempre que pode, deixa a malha urbana da Maia, onde reside, e refugia-se na montanha ali perto ou nem por isso: «Muitas vezes vou para a serra de Valongo, para o Gerês, ou para a Serra da Freita. Ultimamente e sempre que posso, vou para a Serra da Estrela, onde melhor se pode simular o treino em altitude» explica Armando Teixeira, que com 36 anos feitos, começou no trail, curiosamente, por uma brincadeira de amigos, há apenas quatro anos: «Foi em 2008 e a minha primeira vez foi no Trail da Serra da Freita. Nunca tinha feito atletismo sequer, quanto mais corrida em montanha. Gostei do ambiente, da comunhão com a natureza, do desafio constante de nos superarmos e desde então nunca mais parei».

E não foi preciso muito tempo para que Armando Teixeira percebesse que tinha algum jeito para a corrida de trail: «Logo em 2009, um ano depois de ter começado a correr, venci os 105 quilómetros do Ultratrail da Madeira. Isso deu-me ânimo claro, mas apesar dessa e de outras vitórias, não foi a prova que mais me marcou. Essa aconteceu em 2008, no Ultra Trail da Geira Romana. Terminei em quinto lugar, mas para mim foi uma vitória pessoal inesquecível» - recorda.

Prémios monetários nem vê-los
Para os que pensam que existem prémios monetários neste tipo de provas, a verdade é que não existem. E uma vez mais o espírito muito próprio do trail vem ao de cima, com a tão apregoada filosofia de vida, onde o dinheiro não entra: «Só para se ter uma ideia, na mais importante prova de trail do mundo, o Tour do Mont Blanc, e que envolve muitos milhares de euros (só o preço da inscrição de cada atleta são 150 euros), o vencedor não ganha qualquer prémio monetário. Apenas a satisfação de ter ganho. E eu mesmo, pelo segundo lugar conquistado agora nas Canárias, apenas trouxe como prémio um saco de desporto» - confidencia Armando Teixeira, que tem os olhos postos precisamente, na prova alpina: «Será no último fim-de-semana de Agosto e partem dois mil atletas à meia-noite para um percurso de 170 km, que passa por França, Suiça e Itália e regressa de novo a França. É uma prova muito dura, mas um desafio para qualquer ultramaratonista que se preze» - diz Armando Teixeira, que já tentou por duas vezes o Tour do Mont Blanc. Em ambas teve azar: «Em 2010 a prova foi cancelada por causa de um grande deslizamento de terras e no ano passado desisti aos 90 quilómetros».

Na realidade a participação do Tour do Mont Blanc obedece a rigorosos critérios. Para começar não é qualquer atleta que pode participar: «Existe uma tabela de pontuação das provas de Trail, por critérios de dificuldade técnica e para se participar no Tour do Mont Blac tem de se ter cinco pontos, que podem ser acumulados por um período de dois anos. Para isso têm de terminar essas provas pontuáveis e que em Portugal são apenas duas. O Ultra Trail Serra da Freita, que vale dois pontos e o Ultra Trail da Madeira, que conta com três pontos».

10 pares de sapatilhas por ano

Armando Teixeira só no ano passado passou a ter um treinador: Paulo Pires é quem o vai orientado nos treinos, que numa semana normal podem atingir 120 quilómetros. Importa lembrar que quanto maior for o desnível, melhor, para se adaptarem à dureza da montanha «O que difere o trail das provas de montanha, é a distância, que no trail pode facilmente atingir os 40 km em diante e a dificuldade técnica, pois no trail temos por vezes de passar por cursos de água, fazer escalada, andar por trilhos com algum perigo até, algo que não acontece nas tradicionais provas de montanha, que sendo mais curtas assemelham-se muito a provas de estrada, mas na montanha» - e adianta: «Só este ano é que passei a ter o apoio da Salomon e unicamente em material, o que é muito bom, pois um par de sapatilhas técnicas pode custar 150 euros. Devo gastar cerca de 10 pares num ano e se juntarmos a isso os custos das deslocações, entre outras despesas, tudo à nossa custa, bem que se pode dizer que é preciso muito sacrifício».

Mas afinal qual o segredo de um ultramatonista? «A preparação física é importante, sem dúvida, mas a capacidade mental de ultrapassar os obstáculos em ambientes tão adversos é tão ou mais importante ainda. Por isso só posso admirar atletas portugueses que se vêm dedicando ao trail, e que para se treinarem todos os dias têm de se levantar às 4 e meia da madrugada» - e remata: «É por isso que digo que o trail é uma filosofia de vida».


Nome:
 Armando Jorge de Sousa Teixeira

Naturalidade: Matosinhos

Data de nascimento: 11 outubro 1975 

Altura: 1,72 mt      Peso: 61 kg

Treinador: Paulo Pires

Clube: Salomon Portugal                                                                     

Principais resultados: 
1º no Ultra Trail da Madeira 2009
1º nos 101 km  Peregrinos (Espanha) 2011
1º no Trilho dos Abutres 2012
2º Transgrancanaria (123km) 2012

 


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